Não conhece a sigla? Explico. Melhor Rendimento Possível, MRP. É um conceito. Um mantra para quem se desespera com a passagem do tempo e precisa mudar o "mindset" na corrida
Tenho um amigo sub-3h na maratona que quase largou a corrida. Quando passou dos 40 anos, descobriu que não conseguia mais superar as marcas pessoais. Desanimou. Se não dava mais para ser melhor do que no dia anterior, para que treinar? Entendo. Eu já dei umas belas desanimadas nos últimos anos quando percebia que o rendimento era declinante.
E nem é só a questão etária. O MRP precisa levar em conta outros fatores. Está mais quente do que o previsto? Dá então para cumprir a meta traçada antes? Lembro de um estudo de anos atrás que li na edição americana da Runner's World. A partir dos 10 graus centígrados, cada elevação de 5 graus na temperatura fazia a performance de atletas cair 3%. Não é pouca coisa. Alguém dá bola pra isso?
E o sono? Algumas vezes vamos para prova com um número ridículo de horas dormidas e não levamos isso em conta no rendimento. O percurso é cheio de "falsos planos" e não consideramos a armadilha da altimetria em nosso plano. Estamos voltando de lesão e queremos o desempenho de antes. Usar o conceito do Melhor Rendimento Possível não só é recomendável, mas também uma forma de sermos justos com nós mesmos.
Voltando ao tema etário, eu achei uma forma de trabalhar melhor isso na minha cabeça. Pego o índice classificatório para a Maratona de Boston. Pra correr a centenária prova não basta querer, é preciso ter corrido nos 18 meses anteriores uma maratona com determinado tempo conforme cada faixa de idade. Passei oito anos tentando o índice, consegui 3h26min em 2015 e corri Boston em 2017. Penso em voltar a Boston algum dia. Essa tabela, que estima desempenhos por idades, é uma espécie de baliza para mim. Mostra onde eu estou na fila do pão conforme os anos passam. É uma forma também de eu ajustar o meu MRP.
No domingo que vem, vou correr a Golden, a meia rápida e plana da Asics pela Marginal Pinheiros. Não tenho a menor chance de bater meu recorde pessoal de 2015. A marca de 1h36min, nunca mais. Há quase quatro anos não corro a distância. Na pandemia, não tive ânimo para treinos de velocidade, fiquei obviamente mais lento. Quanto posso fazer? Nas últimas semanas treinei procurando essa resposta, buscando meu MRP. Ficaria muito feliz com 1h45min, mas acho que estou mais para 1h48min. O "P" do MRP significa "Possível", não "D", de "Desejável". Compreender e aceitar os limites atuais do corpo é um processo, indica sabedoria, vamos nessa busca. *Por Sérgio Xavier Filho, Jornalista do Globo.com e Site Eu Atleta. Autor do Livro "Operação Portuga".
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